O QUE MAIS VOCÊ QUER?
Por Martha Medeiros
Era uma festa familiar, destas que reúnem tios, primos, avós e alguns agregados ocasionais que ninguém conhece direito, e que por isso mesmo são aqueles com quem a gente logo se entende. Jogada no sofá, uma prima não estava lá muito sociável, a cara era de enterro. Quieta, olhava para aparede como se ali fosse encontrar a resposta para a pergunta que certamente martelava em sua cabeça: o que estou fazendo aqui?
De soslaio, flagrei a mãe dela também observando a cena, inconsolável, ao mesmo tempo em que comentava com uma tia: "Olha pra essa menina. Sempre com esta cara. Nunca está feliz. Tem emprego, marido, filhos. O que ela pode querer mais?"
Nada é tão comum quanto resumirmos a vida de outra pessoa e achar que ela não pode querer mais. Fulana é linda, jovem e tem um corpaço, o que mais ela quer? Sicrana ganha rios de dinheiro, é valorizada no trabalho e vive viajando, o que é que lhe falta?
É quase um pecado confessar: sim, quero mais. Quero não ter nenhuma condescendência com o tédio, não ser forçada a aceitá-lo na minha rotina como um inquilino inevitável. A cada manhã, exijo ao menos a expectativa de uma surpresa, quer ela aconteça ou não. Expectativa, por si só, já é um entusiasmo.
Quero que o fato de ter uma vida prática e sensata não me roube o direito ao devaneio. Que eu nunca aceite a idéia de que a maturidade exige um certo conformismo. Que eu não tenha medo nem vergonha de ainda desejar.
Quero uma primeira vez outra vez. Um primeiro beijo em alguém que ainda não conheço, uma primeira caminhada por uma nova cidade, uma primeira estréia em algo que nunca fiz, quero seguir desfazendo as virgindades que ainda carrego, quero ter sensações inéditas até o fim dos meus dias.
Quero ventilação, não morrer um pouquinho a cada dia sufocada em obrigações e em exigências de ser a melhor mãe do mundo, a melhor esposa do mundo, a melhor qualquer coisa. Gostaria de me reconciliar com meus defeitos e fraquezas, arejar minha biografia, deixar que vazem algumas idéias minhas que não são muito abençoáveis.
Queria não me sentir tão responsável sobre o que acontece ao meu redor. Compreender e aceitar que não tenho controle nenhum sobre as emoções dos outros, sobre suas escolhas, sobre as coisas que dão errado e também sobre as que dão certo. Me permitir ser um pouco insignificante.
E na minha insignificância, poder acordar um dia mais tarde sem dar explicação, conversar com estranhos, me divertir fazendo coisas que nunca imaginei, deixar de ser tão misteriosa pra mim mesma, me conectar com as minhas outras possibilidades de existir. O que eu quero mais? Me escutar e obedecer o meu lado mais transgressor, menos comportadinho, menos refém de reuniões familiares, maridos e filhos e bolos de aniversário e despertadores na segunda-feira de manhã.
E quero mais tempo livre. E mais abraços. E receber mais flores.
Pois é, ninguém está satisfeito. Ainda bem.
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Não, não há nada de errado comigo. Não diria que é insatisfação.
Estou apenas passando por um período de grandes mudanças, e felizmente eles vêm acompanhados de muitos questionamentos.
E o que mais eu quero?
NUNCA PARAR DE QUESTIONAR.
PORQUE EU QUERO SEMPRE MAIS DE MIM.
31 de março de 2009
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16 comentários:
Então somos duas.Me faço diariamente a mesma pergunta: "Estou feliz?O que mais eu quero?"
Eu quero tudo.=)
Adorei o post.
Beijos
Agora somos três! Também adorei o post. Bjokas querida.
Muito bacana o texto, isto se chama vida, esta inquietude acontece com pessoas que brilham e fazem acontecer. Para mim esta postura deveria ser normal em todos. Bjs
Adorei... concordo plenamente e também quero mais, quero muito mais.Qro tudo oque posso querer e ir além. "viver e nao ter a vergonha de ser feliz"
Isso ai! Assino em baixo...Bjs!
E com certeza tem muito mais para viver e acontecer!
Fazer isso é terapêutico e saudável. É o que nos mantém motivadas para viver mais e intensamente. Portanto concordo com você, temos que querer cada vez mais da gente!!! bjos
Me senti super identificada, aliás, adorooo Martha Medeiros! Ela descreve muito bem a alma feminina.
Um grande beijo
então, agora somos quatro! rsrsrs...
O que esta acontecendo, meu Deus!!!
RSRSRS, estamos todas perdidas!!!!
Bijinhos...
É isso aí. A insatisfação é QUE MOVE O MUNDO e é graças a ela que hoje temos todo UM CONFORTO TECNOLÓGICO.
Boas mudanças,
Zin
Como me senti identificada.
Já que aqui estamos neste mundo... é com direito a tudo, né?
Oi, tem um concurso cultural no meu blog - www.atelierzanutti.blogspot.com - Passa lá deixe seu comentário e participe. Beijos
Minha história já está lá na Margarete.
Se achar que ela é boa, vote em mim e me ajude a ganhar a bolsa.
Quem vota também ganha prêmio.
Obrigada e beijo:)
Janice
OI Raquel, o que seria de nossa vida sem questionamentos? O que seria se aceitássemos tudo que a vida nos dá, ou tudo que o conseguimos dela, sem buscar mais? Querer mais acho que faz parte da natureza humana. O dia que pararmos de desejar, querer algo mais, querer crescer, querer mudar, morremos para o mundo! Beijos
amei esse texto.. estou adorando seu blog.. Parabéns!!!
Se me permite vou copiar um parágrafo daqui..
bjos
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